Finalização de restaurações em resina composta: Protocolos, fatores que influenciam na rugosidade, técnicas e materiais de acabamento e polimento.
Autor: Bruno Reis
Especialista em Dentística
Mestre em Clínica Odontológica
Doutor em Materiais Dentários
Membro do grupo de pesquisas em lesões cervicais não cariosas.
Coordenador de projetos relacionados a biomecânica restauradora e acabamento e polimento
Professor da Universidade Federal de Uberlândia - ESTES/UFU
As etapas de acabamento e polimento de restaurações em resina composta são realizadas na odontologia para promover redução da rugosidade superficial propiciando uma menor adesão de bactérias, menor permeabilidade da resina, redução da incorporação de pigmentos e, assim, proporcionando uma maior longevidade (Jefferies SR, 2007). Contudo, para que este procedimento tenha efetividade imediata e manutenção do polimento são necessários alguns cuidados durante as fases de acabamento e polimento.
O primeiro fator que deve ser levado em conta no polimento de resinas compostas é a fotoativação. Para se conseguir um bom polimento ao final do protocolo que será sugerido neste texto, inicialmente o profissional deve garantir que a resina composta alcançou o máximo de polimerização possível. Uma resina mal polimerizada será incapaz de manter um polimento adequado (Rueggeberg et al. 2017)
Considerando que o desafio de se conseguir uma adequada polimerização foi vencido, o segundo fator a ser considerado é que todas as etapas realizadas sobre a resina durante as fases de acabamento poderão influenciar no polimento final. Isso quer dizer que o dentista ao realizar o acabamento deve fazê-lo de maneira a não danificar a matriz da resina composta excessivamente e não promover o deslocamento de partículas da matriz. Um dos fatores que influencia neste processo é o uso de pontas diamantadas nas etapas de acabamento. Elas podem gerar riscos muito profundos no material além de danos permanentes na resina, que irão afetar o polimento. Dessa forma em substituição as pontas diamantadas, sugere-se optar pelo uso de brocas laminadas ou discos contendo abrasivos (Figura 1).
Figura 1 - Discos de Sof-Lex™ Pop-On 3M ESPE para acabamento e polimento de resinas compostas. Para dentes anteriores e faces livres de todos os dentes, o uso de discos abrasivos se mostra uma excelente opção, visto que a diminuição gradativa dos grânulos abrasivos propicia um excelente polimento da restauração. Ao finalizar o uso de discos, as borrachas polidoras encontrarão uma superfície mais fácil de ser polida.
Sobre os discos, é preciso considerar uma característica importante demonstrada nas microscopias abaixo (Figuras 2 e 3).
Figura 2- Os grânulos dos dois primeiros discos da sequência de Discos de Sof-Lex™ Pop-on 3M ESPE apresentam o formato e distribuição de grânulos conforme essa imagem. Observe que há uma homogeneidade no formato e distribuição das partículas o que contribui para um adequado polimento. As partículas estão inseridas numa base de poliéster, que, diferente de algumas borrachas, não é capaz de gerar danos ao material restaurador durante o processo de acabamento e polimento (Imagens realizadas por Prof. Dr. Bruno Reis e Prof. Dr. Breno Mont’Álverne).
Figura 3- Imagem dos grânulos abrasivos de discos de média e baixa granulação. Além do tamanho dos grânulos serem menores do que os discos anteriores, o formato da partícula é arredondado o que facilita as etapas de polimento subsequentes.
Há no mercado diferentes tipos de resina composta, neste contexto é importante ter em mente que o tipo, tamanho e distribuição da partícula influencia na capacidade de polimento. Especificamente sobre a resina Filtek™ Z350 XT, esta apresenta comportamento diferente de outras resinas durante o polimento e justifica baixos valores de rugosidade encontrados em nossos estudos. Devido à presença dos nanoaglomerados, quando submetida ao procedimento de acabamento e polimento, o nanoaglomerado é capaz de ser riscado, removendo somente parte das partículas nanométricas que o compõe. Em outros materiais pode haver o deslocamento de uma partícula inteira, criando falhas na superfície do material.
Figura 4 - Microscopia da Filtek™ Z350 XT submetida ao procedimento de acabamento e polimento. Não se observou deslocamento de partículas com manutenção do nanoaglomerado. Imagem realizada por Prof. Dr. Bruno Reis e Prof. Dr. Breno Mont’Alverne
O uso de polidores em formato de espiral (Figura 5) tem se popularizado na odontologia, demonstrando boa capacidade de polimento. Mais do que a versatilidade para alcançar diferentes regiões dentais, uma importante vantagem dos espirais é corrigir alguns erros muito comuns no momento do polimento, como aquecimento da resina e excesso de pressão do operador sobre o material. Ao ser aquecida, a resina pode apresentar danos que reduzem a longevidade e, consequentemente, a manutenção do polimento. O excesso de pressão pode promover riscos tão profundos na matriz, que as etapas subsequentes não conseguirão remover. Ao ser pressionada, as cerdas do espiral tendem a se deformar e, portanto, não haverá excesso de pressão sobre a resina, nem aquecimento do material.
Figura 5 - Polidores em espiral (Sof-Lex™ Discos Espirais, 3M).
Figura 6- Imagem A: microscopia do Sof-Lex™ Discos Espirais (3M) cor bege. Imagem B: microscopia do Sof-Lex™ Discos Espirais (3M) cor rosa. Em ambos é possível observar grande quantidade de grânulos com distribuição e formato uniforme dos mesmos (Imagens do Prof. Dr. Bruno Reis).
Por fim, colocamos mais algumas dicas clínicas importantes para o polimento das restaurações em resina:
- Prefira instrumentos polidores usados, de forma geral instrumentos polidores novos não apresentam partículas suficientes em sua superfície para polir. Após o uso, as partículas vão sendo expostas e a capacidade de polir se torna muito maior. Mas, cuidado, mais partículas expostas aumenta a capacidade desgaste do polidor.
- Trabalhe sempre com leve pressão da mão e rotações menores que 10.000 RPM. Lembre-se o que faz o polimento é o atrito das partículas abrasivas na superfície do material e não a pressão da borracha sobre a superfície.
- Após cada disco ou borracha polidora, lave a superfície antes de iniciar com o outro instrumento. Durante o polimento as partículas do polidor podem se desprender ficando sobre a superfície do material, impedindo que o polidor de menor granulação possa agir sobre a superfície livre dos grânulos maiores (Figura 7).
Figura 7 - Polidor Sof-Lex™ Pop On após uso. Veja que partículas podem se desprender e misturar com as partículas do próximo polidor prejudicando a etapa de polimento que esta sendo executada (imagens de Prof. Dr. Bruno Reis e Prof. Dr. Breno Mont’álverne).
O caso clínico abaixo apresenta uma sugestão de protocolo de polimento seguindo as instruções acima.
Caso Clínico: Restauração de incisivos laterais conóides com ênfase no protocolo de acabamento e polimento.
Inicial: Paciente tinha como queixa principal o formato conóide dos incisivos laterais.
Estratificação: Os elementos dentais foram construídos em apenas 3 incrementos (Filtek™ Z350 XT cor WE para concha palatina, Filtek™ Z350 XT cor B1B no terço incisal e Filtek™ Z350 XT cor A1E recobrindo toda a vestibular).
Definição da anatomia: Marcação das arestas delimitando a área de espelho.
Acabamento/Polimento: Uso dos discos em sequência de forma a obter a menor rugosidade na superfície.
Polimento com borrachas: Sequência de borrachas utilizadas para obter o brilho final.
O resultado final apresenta brilho satisfatório e compatível com dentes vizinhos.
Rueggeberg FA, Giannini M, Arrais CAG, Price RBT. Light curing in dentistry and clinical implications: a literature review. Brazilian oral research 2017;31:e61
Jefferies SR. Abrasive finishing and polishing in restorative dentistry: a state-of-the-art review. Dental clinics of North America 2007;51:379-97, ix.
Heintze, M. Forjanic, V. Rousson. Surface roughness and gloss of dental materials as a function of force and polishing time in vitro. Dental Materials (2006) 22, 146–165