O Dr. Ricardo Moresca é graduado em Odontologia e especialista em Ortodontia e Ortopedia Facial pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Mestre em Ortodontia pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e Doutor em Ortodontia pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FO USP). É Professor da UFPR desde 1994. Tem consultório particular em Curitiba-PR, sendo diplomado pelo Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial.
Introdução
O tratamento da má oclusão de Classe II é considerado um dos mais desafiadores para os ortodontistas. Além da grande variação de componentes dentários e esqueléticos que podem estar associados, as características faciais também podem influenciar na escolha da melhor opção de tratamento para cada caso. Dependendo do método selecionado, a colaboração do paciente pode ser um fator decisivo no sucesso do tratamento.
A Classe II subdivisão é uma má oclusão assimétrica na qual em um dos lados a relação molar é de Classe II e no outro, de Classe I. O posicionamento distal do primeiro molar inferior unilateralmente parece ser o principal determinante deste problema sagital.1,2 Outras causas como o posicionamento mesial dos primeiros molares superiores, assimetria mandibular, fossa mandibular posicionada mais posteriormente e deslocamento funcional da mandíbula também podem estar associadas.3-5
Dependendo da etiologia e da gravidade do problema, a Classe II subdivisão pode ser tratada com ou sem extrações dentárias, além da cirurgia ortognática. As principais opções de tratamento sem extrações ou cirurgia são o uso de elásticos intermaxilares6,7 e de aparelhos funcionais fixos.8-9
Dentre os corretores fixos de Classe II, o Forsus™ (3M Unitek, Monrovia, CA, EUA) tem se mostrado bastante eficiente e com resultados previsíveis,10-12 além de reduzir significativamente a necessidade de colaboração do paciente. Atualmente, o Forsus é o aparelho para correção da Classe II mais utilizado entre os ortodontistas norte-americanos.13
É um dispositivo fácil de ser gerenciado clinicamente e bem aceito pelos pacientes.14 A associação do Forsus com os tubos Wire Mount permite que o mesmo seja instalado com tubos colados nos primeiros molares superiores, eliminando a necessidade de bandas, o que torna o tratamento mais simples e confortável para o paciente e para o ortodontista.14
Considerando especificamente o tratamento da Classe II subdivisão, a abordagem com o Forsus, comparativamente aos elásticos intermaxilares, tem se mostrado mais efetiva e em menor tempo de tratamento, requerendo mínima cooperação do paciente. 15
O caso clínico apresentado relata o retratamento de um paciente de 14 anos e 10 meses de idade com má oclusão de Classe II subdivisão direita, devido ao posicionamento distal dos dentes no lado inferior direito, tratado com sucesso utilizando o Forsus™ Wire Mount. O tempo total de correção foi de 15 meses. Os bráquetes Clarity™ Advanced (3M Unitek, Monrovia, CA, EUA) foram selecionados para proporcionar uma combinação de estética e controle da movimentação durante o tratamento. A prescrição MBT™ foi essencial para se obter o excelente controle de torque observado, especialmente nos incisivos inferiores.
Detalhes do Caso Clínico
Paciente
Masculino; 14 anos, 10 meses
Queixa principal
Retratamento ortodôntico para corrigir a mordida no lado direito.
Achados radiográficos
- Dentição permanente completa.
- Ausência dos dentes 28, 38 e 48.
Análise dentária
- Classe II subdivisão direita de 3,5mm.
- Desvio da linha média inferior para a direita.
- Curva de Spee inferior de 3,0mm no lado direito e de 1,5mm no lado esquerdo.
- Rotações dentárias suaves generalizadas.
Plano de tratamento
- Montagem dos bráquetes estéticos Clarity™ Advanced e colagem de tubos Série Victory (3M Unitek, Monrovia, CA, EUA) nos molares nos arcos dentários superior e inferior – canaleta .022” com prescrição MBT™.
- Alinhamento e nivelamento dos arcos dentários superior e inferior.
- Corretor de Classe II Forsus™ modelo pino em “L” adaptado a tubos Wire Mount.
- Finalização.
Contenção
- Alinhador estético no arco dentário superior.
- Contenção fixa 3x3 do tipo higiênica no arco dentário inferior.
Notas do autor
1. O método de posicionamento de bráquetes, a sequência e as formas dos arcos e as mecânicas utilizadas foram embasadas na Filosofia de Tratamento Ortodôntico MBT. O Forsus, no entanto, pode ser associado a qualquer prescrição de bráquetes.
2. O aparelho inferior foi montado no segundo mês de tratamento para o conforto do paciente.
3. Nas bordas oclusais e mesiais dos tubos dos primeiros molares superiores foram adicionados reforços de resina visando a utilização do Forsus Wire Mount. Estes acréscimos de resina não foram necessários nos bráquetes dos caninos inferiores (Figura 5A-C).
4. SE é a abreviatura de NiTi Superelástico e SS a abreviatura de aço inoxidável.
5. Para evitar a abertura de espaços os arcos superiores e inferiores foram amarrados com ligaduras metálicas (tiebacks passivos) estendidas dos ganchos dos tubos dos segundos molares até os ganchos soldados nos arcos entre os bráquetes dos incisivos laterais e dos caninos (Figura 7A-E). Uma outra opção seria manter os arcos dentários superior e inferior com todos os dentes conjugados por baixo dos arcos.
6. Os tubos Wire Mount devem ser posicionados no arco .019”x.025” SS na mesial dos tubos dos primeiros superiores com a entrada redonda voltada para oclusal. Os módulos elásticos são utilizados apenas para manter os dois tubos próximos. (Figura 8A-C).
7. Com os tubos Wire Mount recomenda-se a utilização do Forsus do tipo pino em “L”, sendo adaptado nos tubos redondos de distal para mesial. A dobra do pino em “L” na mesial do tubo fixa o aparelho (Figura 9A-C).
8. Mais informações sobre as características e os métodos de instalação do Forsus Wire Mount podem ser obtidas consultando a referência 14.
9. Recomenda-se a utilização do Forsus a partir dos arcos retangulares de aço inoxidável com o intuito de se obter um melhor controle da movimentação. Para evitar rotações indesejadas durante a utilização do Forsus o arco .019”x.025” SS foi fixado aos bráquetes dos caninos inferiores com ligaduras metálicas. Os incisivos inferiores também foram fixados com ligaduras metálicas para um melhor controle do torque (Figura 9A-C).
10. Considerando a Classe II subdivisão, o tamanho do pistão do Forsus foi selecionado pelo lado direito (Classe II). Foi utilizado o mesmo tamanho no lado esquerdo. Seguindo esta recomendação as molas exercem a força necessária para a correção no lado da Classe II e são mantidas menos ativadas no lado da Classe I. Não se recomenda a utilização do Forsus unilateralmente para se evitar a inclinação do plano oclusal inferior.
11. O Forsus foi mantido em posição até se obter uma relação de topo entre os incisivos. Neste caso, o tempo de utilização do Forsus foi de 3 meses, mas pode variar de 4 a 6 meses, em média (Figuras 10A-C e 11A-C).
12. A utilização do Forsus associado aos tubos Wire Mount foi muito prática e confortável para o paciente, uma vez que dispensou o uso de bandas nos primeiros molares superiores, sem comprometer a eficiência do aparelho.
13. Nenhuma emergência foi observada durante o período em que o Forsus permaneceu em posição. Não ocorreram quebras de bráquetes ou tubos durante todo o tratamento.
14. Após a remoção do Forsus foi utilizado elástico de Classe II noturno bilateralmente com 250gf até a estabilização da oclusão em Classe I (Figura 14A-C).
15. Durante a finalização alguns bráquetes foram reposicionados e renivelados. O assentamento final da oclusão foi realizado utilizando-se arcos retangulares com filamentos de aço trançados (braided) associados a elásticos verticais (Figura 15A-C).
16. Os efeitos observados na correção da Classe II com o Forsus estão de acordo com estudos prévios,10-12 produzindo apenas alterações dentoalveolares, como movimento mesial dos molares inferiores e projeção dos incisivos inferiores. Nenhum efeito esquelético foi observado (Tabela 1).
17. Ao início do tratamento, os incisivos inferiores já encontravam vestibularizados compensando a tendência de Classe II mandibular (Tabela 1).
18. O torque da prescrição MBT para os incisivos (centrais superiores=17o; laterais superiores=10o e incisivos inferiores=-6o) permitiram um excelente controle de torque destes dentes, especialmente no arco inferior. A inclinação vestibular dos incisivos inferiores foi bem controlada apesar do efeito do Forsus e do nivelamento da Curva de Spee. As características faciais também não foram alteradas (Tabela 1).
19. Os bráquetes Clarity Advanced mostraram-se bastante eficientes proporcionando uma excelente combinação de estética e controle dos movimentos dentários durante o tratamento. Também apresentaram resistência suficiente para a adaptação do Forsus sem nenhuma intercorrência.
20. Os excelentes resultados observados podem ser atribuídos ao correto diagnóstico e à aplicação de princípios biomecânicos adequados à etiologia da Classe II subdivisão determinada para o caso (Figuras 16 a 19).
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Referências
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